banner

Notícias

Jul 03, 2023

Uma garrafa de plástico feita com 65% de material reciclado pode ser considerada verde?

A reciclagem está no centro do debate na luta contra a poluição plástica. As Nações Unidas estão estudando como fazer o mundo reciclar como parte dos objetivos estratégicos do tratado contra a poluição plástica; essas metas estão sendo negociadas esta semana em Paris. Grupos ambientalistas alertam para os problemas de dar nova vida aos polímeros sem reduzir a produção desse material, que se espalha sem controle pelo planeta. Os ambientalistas também estão denunciando o fato de que a Europa está prestes a relaxar os requisitos para considerar embalagens de plástico feitas com material reciclado como verdes.

Paris recebe uma reunião das Nações Unidas que começou na segunda-feira e vai até a próxima quinta-feira. Espera-se que o encontro redija o texto de um tratado global juridicamente vinculativo contra a poluição plástica. Entre outros objetivos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) busca diminuir o uso de plástico virgem por meio de reutilização e reciclagem, bem como reduzir os riscos à saúde causados ​​por mais de 13.000 produtos químicos que contêm esses polímeros. O documento a ser apresentado na reunião da capital francesa ainda deve ser discutido em reuniões futuras antes de poder ser adotado em 2024.

Enquanto este tratado global está sendo negociado, uma coalizão de organizações ambientais - incluindo Ecologists in Action, Environmental Coalition on Standards (ECOS), Transport & Environment e World Wildlife Fund (WWF) - denuncia o fato de que recipientes como garrafas plásticas fabricadas com 65% de o material reciclado será considerado verde de acordo com a taxonomia ambiental europeia. Depois da polêmica sobre a inclusão do gás natural e da energia nuclear na lista de investimentos sustentáveis ​​na Europa (desde que atendam a uma série de requisitos), essa coalizão de ambientalistas acredita que flexibilizar as exigências do plástico mais uma vez facilita o greenwashing da indústria. “Rotular a produção de embalagens plásticas de uso único como sustentável seria cometer o mesmo erro [de antes]”, comenta Sara Bourehiyi, porta-voz da Ecologists in Action. "A taxonomia surgiu como uma ferramenta oficial baseada em critérios científicos e [mais uma vez] estamos vendo que não. Só com a ciência podemos evitar a ultrapassagem de 1,5°C [34,7°F]", alerta.

Inicialmente, a taxonomia verde proposta exigia que as embalagens plásticas fossem feitas com, no mínimo, 85% de material reciclado; com as novas exigências, esse percentual seria reduzido para 65% para embalagens plásticas em geral. As empresas de plástico apoiam essa mudança. Por exemplo, a Plastics Europe na Espanha, que representa os produtores deste material, afirma que "a fabricação com 85% de plástico reciclado não era viável do ponto de vista técnico, considerando os níveis atuais de coleta e triagem de resíduos plásticos nos Estados-Membros da UE".

A diretora de biodiversidade do Greenpeace, Celia Ojeda, rejeita a ideia de que uma embalagem de plástico possa ser considerada verde, mas acrescenta que a própria reciclagem é problemática porque desvia a atenção da grave poluição causada por esses polímeros em todo o mundo. "Esse material chegou ao limite. Produzimos mais plástico do que conseguimos; menos de 9% é reciclado no mundo... baseado em plástico não faz sentido porque teremos o mesmo problema quando acabarmos de usá-lo."

Nas negociações do tratado de poluição plástica desta semana em Paris, a reciclagem não é apenas parte da solução, mas também parte do problema. Em meados de maio, o PNUMA apresentou um relatório que desenvolveu uma série de medidas para reduzir a poluição global por plásticos em até 80% até 2040. O documento, que pretende ser um guia, parte da premissa de que o atual sistema de reciclagem não está funcionando porque ainda é mais barato produzir plástico virgem do que reciclar o plástico existente. Para conseguir uma maior reutilização, o relatório propõe a imposição de um imposto sobre o uso de plástico virgem. O PNUMA também defende o uso de garrafas recarregáveis, dispensadores a granel e sistemas de depósito e devolução.

COMPARTILHAR